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  • Foto do escritorMalamanhadas

Sentimos muito

Sentimos muito. Sentimos medo. O medo em si pode ser visto como uma certa autoproteção. Ele nos leva a evitar situações justamente por temer algo maior e, por consequência, gera esta defesa. Mas o medo paralisa também e, às vezes, cria situações de pânico que são perigosas e desnecessárias, porque ele pode ser um motor benéfico justamente para causar um instinto de sobrevivência. Mas quando atinge o limite dos nossos sensos, já pode haver desproporções.


Estamos vivendo uma situação de pandemia. Um vírus novo que nos amedronta e de fato está sendo perigoso para a população mundial. A recomendação é que fiquemos em casa, resguardados, quem pode, é claro. No Brasil, estamos no terceiro dia de quarentena. Algumas pessoas conseguem trabalhar de casa, com a prática do home office. Escolas e faculdades estão fechadas por 15 dias, 30 dias e até mesmo por tempo indeterminado. Já percebemos horários em que as ruas estão bem mais vazias. É real. No entanto, até que ponto devemos entender o limite desta proteção com o pânico?


Semana passada, escutando um episódio de um dos podcasts mais escutados do país, o Café da Manhã, em que uma psicóloga falava justamente sobre a diferença do medo e do pânico. São pouco mais de 20 minutos de conversa e teve algo que mais me chamou atenção. Dentro desse imaginário apocalíptico, tem pessoas que gostam e ficam eufóricas com esse quadro de medo generalizado. O pensamento de que finalmente tudo vai acabar, que chegou ao fim. Acho que não é um sentimento surreal, pelo menos já tive essa sensação, de querer que tudo terminasse.


Isto acontece porque nós precisamos sentir algo. É uma carência absurda que faz com que algumas pessoas tenham esse desejo apocalíptico durante uma pandemia. Uma alegria disfarçada de puro vazio. Também porque nossa cultura capitalista impede de estarmos pensando no coletivo, a nossa constante individualidade já pensa em saídas desesperadoras. Até mesmo cabe ao famoso exemplo da ida ao supermercado para estocar a casa de alimentos ou a busca por máscaras, não se importando com o outro. Esse cenário de desespero é aceito pelas pessoas por essa necessidade do sentir, seja esse sentir algo bastante problemático.


Além disso, a quarentena nos obriga a este estado de isolamento. Hoje temos inúmeras possibilidades para não nos isolarmos por completo. Com as redes sociais, estamos sempre conectados com os nossos e com os demais. Temos conteúdos de entretenimento com séries e filmes. Temos aquele tempo para pôr a leitura em dia e até mesmo os estudos. Mas isso não é suficiente. Eu sei que para muitos está sendo um sacrifício imenso, porque a vida solitária é muito dolorida. Ficar sem ver pessoas, sem sair de casa, sem estar dentro a sua rotina é muito ruim para todos. Por um certo tempo é bom, mas depois começa a ser tedioso. Os vídeos dos italianos cantando na varanda de seus prédios é bastante simbólico para esta mensagem que quero passar.


Estamos sentindo a todo momento. E sentimos muito. É impossível não sentir medo com a quantidade de notícias que está sendo bombardeada a toda hora. Os telejornais aumentaram seus tempos de transmissão, o esporte foi vetado da programação durante este período. Algumas novelas também estão sendo suspensas. Não tem como não reagir a tudo isso. Mas vamos manter a calma. É a frase mais clichê e mais escutada, mas não tem como substituir por outra. É manter a calma, seguir as recomendações e buscar, dentro do possível, meios de não surtar. Temos que ter fé em nós mesmos e na nossa capacidade de proteção para sairmos dessa. Lavem as mãos e protejam nossos idosos.



Texto escrito por Ananda Omati.

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