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  • Foto do escritorMalamanhadas

Dissecando minha velha roupa colorida

Atualizado: 3 de ago. de 2020

Belchior é um dos maiores compositores brasileiros e ele sabe muito bem refletir sobre o tempo em suas músicas. Escutá-lo diariamente é viajar dentro da minha consciência. É um misto de nostalgia boemia com o presente. Velha roupa colorida é uma das minhas músicas preferidas. Tudo nela me transporta. Vou compartilhar agora como eu escuto essa música. Eu paro em cada estrofe e fico acrescentando mais uma reflexão. Brincadeira. Mas hoje vou fazer isso. Para abraçar um pouco esse movimentado cantado.


“Você não sente, não vê Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo Que uma nova mudança, em breve, vai acontecer”

De fato, meu amigue, você não me vê e eu tampouco tento mostrar. Eu já era bastante fechada, apesar das exposições no twitter, mas o meu silêncio segue firme, mesmo que por dentro o meu corpo e mente façam barulho. Mas rompo essa barreira e venho aqui dizer que mudanças estão sendo bem vindas na minha vida. Isso mesmo, como um anuncio, eu decido dizer que as mudanças estão acontecendo e não chegaram de um dia para o outro, com um pé na porta, escancarando tudo e remexendo. Não. Foi sutilmente. Quando menos percebi, o reflexo no espelho delatou uma nova Ananda. Porque primeiro é assim, o que é palpável de se olhar e visível de se pegar.


“E o que há algum tempo era jovem, novo, hoje é antigo E precisamos todos rejuvenescer”


Eu só tenho 26 anos. Só. Sou muito jovem. Escrevo abreviado na internet, uso muitos emojis, estou nas redes sociais. Ah, lembrei. Velho também faz isso e é engraçado acompanhar essa adaptação dos meus pais, por exemplo, no whatsapp e instagram. Outro dia vi meu pai assistindo a vídeos no tiktok, app do qual eu não uso, mas ele tem baixado no celular, pelo menos para sorrir um pouco das trivialidades da vida. Mas eu sou muito jovem. Como eu tenho a coragem de me sentir velha por uns significativos fios brancos no meu cabelo que nascem desde os meus 16 anos de idade? Eu sou jovem e preciso ser mais jovem ainda. Nesses tempos de obscurantismo e regressão, eu me abraço com a juventude, justamente para combater esse mundo cruel.


“Nunca mais meu pai falou 'She's leaving home' E meteu o pé na estrada like a rolling stone Nunca mais eu convidei minha menina

Para correr no meu carro, loucura, chiclete e som Nunca mais você saiu à rua em grupo ou reunido O dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor quêde o cartaz?”

Gatilhos. São quantos meses? Eu mentiria ao dizer que parei de contar. Impossível. Imagine o que era você sair quase todos os dias, mesmo no vazio da noite, tinham vibrações próximas a você o tempo todo. A energia, meio que caída, era minha companhia antes da pandemia. Sair por aí, buscando fugas ou apenas aproveitando um pouco dessa tal juventude e de companhias... Copos de cerveja, cigarros, juventude, boemia, conversa fora, conversa dentro... Me questiono se esse meu novo ‘eu’ está preparado ou quer de fato retomar essa dinâmica de vida. Eu estou bem sossegada, sem beber e sem transitar por aí... A saudade fica martelando só mesmo para me reunir com meus amigos e isso é inevitável. Mas eu já consigo enxergar o aproveitamento da vida de outras maneiras. Vou contar algo inacreditável agora: ficar em casa também é aproveitar a vida. Ó! É aproveitar sua singularidade e não de uma forma individual, mas benéfica quanto ao seu posicionamento no mundo. Aproveitando seu privilégio e não fingir não o ter.


“No presente, a mente, o corpo é diferente

E o passado é uma roupa que não nos serve mais”


O meu corpo também está diferente. Tenho roupas que já não estão servindo. Mas sem dúvida a maior mudança é na mente. Um dos maiores exemplos são sentimentos que estou me permitindo ter e até mesmo verbalizar. Comecei dizendo que meu amigue não acompanharia essas mudanças e que tampouco eu iria lhe contar, mas não é verdade. Até em pequenos atos, eu estou conseguindo ser mais aberta e menos dura com minhas vontades. Não preciso mais ser tão calorosamente fria. Por exemplo, eu posso sim comparar uma música tão profunda com a insignificância da minha vida. Eu já não consigo ser tão contida emocionalmente.



Texto escrito por Ananda Omati.

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