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  • Foto do escritorEquipe Malamanhadas

Neste carnaval, tomem cuidado com a “liberdade sexual”



    O carnaval já começou. Eu vejo isso pelo glitter espalhado pelo meu corpo. Junto com as serpentinas e os pontos coloridos, temos a sensação de que nesta época podemos aproveitar as festividades para também poder ficar com qualquer pessoa e explorar nossos desejos sexuais. Daqui da minha perspectiva de mulher hétero, isso implica em outras atitudes bem mais difíceis e cheias de armadilhas.

    Na sociedade patriarcal, a mulher cis, mais especificamente, tem sua sexualidade reprimida desde sempre. Não se pode falar sobre e muito menos pensar para além de um corpo meramente reprodutor, afinal, o papel da mulher é apenas procriar e, desenvolver desejos que tenham finalidade contraceptivas, não algo é possível. Com isso, acabamos muitas vezes não desenvolvendo uma relação mais harmonioza e saudável com a nossa sexualidade por conta das questões morais.

    Quando entramos em contato com o feminismo, por exemplo, nos é vendido muitas ideias libertárias – que são importantes, porém perigosas. Nos é passado que temos que ter a liberdade de ficar com quem quisermos, na hora que quisermos, do jeito que quisermos. Mas será que, de fato, é isso que acontece? Saímos de uma posição enclausurada, com os desejos podados no contexto social e automaticamente somos as pessoas mais livres e abertas e consequentemente donas de si? Há um longo caminho entre se libertar e ser livre de fato.

Nos é passado que temos que ter a liberdade de ficar com quem quisermos, na hora e do jeito que quisermos. Mas será que, de fato, é isso que acontece?

    Certa vez li um texto bastante reflexivo e acolhedor partindo do ponto de como a tal liberdade sexual leva ao abuso. Me encontrei em cada linha daquele texto. Quantas e quantas vezes transei só por me sentir desejada, mas sem sentir desejo de fato? Claro que isso também é explicado pelas questões mais pessoais, como minha autoestima baixa, mas a própria autoestima da mulher e o modo como ela foi condicionada a sempre servir ao homem está relacionada a essas repetições de ficar com muitos homens e não sentir prazer.

Há uma grande diferença em dar prazer e ter prazer. O primeiro é mais fácil, obviamente e o segundo... meu deus, alguém sabe de fato se dar prazer? Ser livre sexualmente é antes de tudo saber se satisfazer sozinha. Não a masturbação que se utiliza de artifícios prisionais como o uso da pornografia e, sim, sentir o seu corpo, seus pontos, suas vontades, independente do que o outro quer ou acha que é melhor por puramente egoísmo. É claro que sexo é algo feito à dois ou à três ou a quantas que sejam, mas ele é também autoconhecimento e deveria ser também um desejo que todos fiquem satisfeitos.

     Abuso não é algo estritamente forçado e brutal. É, mas é muito mais e muito além. É você querer, mas não sentir prazer nenhum e muitas vezes você acabar sempre dizendo sim por medo ou por achar que tem que transar. É você fingir orgasmos, gemidos, é você fazer um sexo oral sem ao menos receber, é você topar fantasias ou posições bastantes submissas sem nenhuma vontade, mas fazer por achar que está subvertendo a lógica da moça recatada que vai transar só depois do casamento com um homem ideal.

Abuso não é algo estritamente forçado e brutal. É, mas é muito mais e muito além. É você querer, mas não sentir prazer nenhum

    A subversão está muito mais ligada em não fazer sexo por sexo do que ficar com vários caras que só estão interessados no próprio prazer. Prazeres, estes, que lhes são ensinados e a pornografia tem influência nisso. Não podemos igualar liberdade sexual a querer fazer tudo, sobretudo no sexo, porque isso não é nada revolucionário, pelo contrário, é só a mais clara forma de submissão ao homem. Meu corpo, minhas regras, sim. Meu corpo, meu prazer, minha mente, meu bem-estar, minha saúde.

    A liberdade está muito ligada ao contexto social em que vivemos. O que é ser livre atualmente? Homens podem transar e conseguir sexo a todo custo. Será realmente que é isso que nós mulheres queremos? De fato, é libertador ser “vadia”? Ou não estamos apenas sendo livres dentro do que é permitido do que sejamos na sociedade patriarcal? Na verdade, essa condição de vadia nunca foi uma proibição, pelo contrário, os homens são a favor, é tanto que o nosso corpo é utilizado como forma de exploração para seus poderes e para seus prazeres.


Texto escrito por Ananda Omati.

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