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EPISÓDIO #37 - Bastidores: Série Justiça Reprodutiva

Atualizado: 30 de nov. de 2022

Episódio extra da Série Justiça Reprodutiva publicado em 26/09/2022




Em um fundo bege de textura rugosa, temos uma figura geométrica na cor laranja que faz referência ao sol e uma mão que segura um microfone. A mão aparenta ser de uma mulher, no braço é possível ver que ela veste uma blusa verde musgo de mangas longas. O microfone e preto e cinza com um detalhe azul próximo ao fio. Este circunda o braço, mas logo se encerra.
Capa do Episódio #37 | A imagem contém texto alternativo

Confira o episódio em nas plataformas de áudio:Deezer |Spotify |Google Podcast |Stitcher


Confira o roteiro na íntegra:


ALDENORA: Oi! Eu sou Aldenora Cavalcante.


JADE: E eu Jade Araújo.


ALDENORA: Estamos de volta aqui no Malamanhadas depois de construir uma série especial sobre Justiça Reprodutiva para mães e mulheres com deficiência. Se você não acompanhou os quatro episódios que a gente lançou em junho, eu sugiro que você volte um pouco o nosso feed e maratone.


JADE: Se você já escutou tudo e está curioso para saber como foi colocar a série no ar, vem com a gente que vamos te contar os bastidores neste episódio.


[VINHETA DO MALAMANHADAS]


[VINHETA DA SÉRIE JUSTIÇA REPRODUTIVA]


JADE: Está gravando sua voz aqui.

MÁRCIA GORI: A tua voz tá aí gravando também?

JADE: Tá.Pronto, tá gravando. Aí você colocou aí no celular, né?

MÁRCIA GORI: Então, espera aí que eu vou conectar de novo. Vamo lá!


[VINHETA DA SÉRIE JUSTIÇA REPRODUTIVA]


ALDENORA: Quem você ouviu foi a Márcia Gori, uma das quatro protagonistas da série Justiça Reprodutiva para mulheres-mães com deficiência. Nesse processo de escolha das participantes, a gente tinha o objetivo que era entrevistar mulheres com deficiências diversas de diferentes partes do Brasil, mas sem deixar de lado a pegada mais regional que é característico do Malamanhadas.


JADE: Desde o começo, contamos com a consultoria para assuntos acessíveis de Denise Santos, que foi nosso grande suporte durante todo o processo. Como mulher com deficiência visual, ela tem uma potente e importante rede de apoio construída por outras mulheres que partilham essa vivência como mulher com deficiência. Na nossa primeira reunião que aconteceu ali no finalzinho de março, começo de abril deste ano, detalhamos algumas fontes que poderiam integrar a série de acordo com a temática de cada episódio e discutimos caminhos de definição de pautas e abordagens. Tudo isso em conjunto com parte da equipe que foi composta por mim, Jade, pela Aldenora, pela Ananda, Jhoária e Denise. Mas também tivemos outras reuniões com o Moura, que é da identidade visual, e com a Vitória, nossa intérprete de libras.


ALDENORA: Eu lembro dessa nossa primeira reunião, Jade. Antes dela, eu já tava muito empolgada para aprender mais sobre essa realidade porque eu sou uma mulher com deficiência, né, e eu sempre fui colocada como uma pessoa com uma deficiência “menor”, por ser uma deficiência que é só de um braço e é física e justamente por isso, eu não era considerada uma mulher pcd e, ao mesmo tempo, eu também não era vista como uma mulher sem deficiência. Eu tava vivendo e ainda hoje eu vivo aí nesse limbo que colocam a gente. E são esses pontos que vamos comentar, né. A gente vai voltar a falar mais na frente aqui durante esse episódio.


JADE: Isso, Aldenora. Essa série além de tudo trouxe também um pouco das nossas percepções e vivências, como foi no teu caso. Falar para mulheres com deficiência era um tema urgente para o Malamanhadas. Mas o papo agora é sobre produção. Nesse caminho, a gente contou com a assistência da Jhoária Carneiro, que também mergulhou nesse processo de conhecer as mulheres e ouvir suas histórias.


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]

JHOÁRIA: A minha experiência na função de entrar em contato com essas mulheres e marcar essas entrevistas, eu considero de um grande aprendizado e que pra mim vai ficar marcado também na questão de eu entender alguns pontos de como as realidades das pessoas são diferentes, né? Confesso que eu vivia numa pequena bolha onde eu não tinha muito contato com a questão da acessibilidade e conversar, entrar em contato com algumas dessas mulheres e conversar com elas sobre isso, abriu meus olhos pra muita coisa. Fora também a questão técnica de como entrar em contato com essas mulheres também me fez abrir esse meu olho de tipo saia da bolha, né? Foi uma uma experiência que realmente vai ficar marcada e que foi de real aprendizado né? Eu vou levar o que eu aprendi pra minha vida e espero que vocês gostem e tenham gostado da série.


ALDENORA: Justamente, Jhoária. E construir essa rede de aprendizado de forma remota também foi um desafio pra gente. Como a maior parte das nossas entrevistadas eram de fora do Piauí, e uma delas inclusive do interior do estado, a gente optou por fazer as entrevistas em aplicativos de gravação de vídeo e de áudio. E a gente passou por muito perrengue para que a gente conseguisse captar tudo e salvar todos os arquivos que usamos na série com uma qualidade boa.


[EFEITO DE LIGAÇÃO PELO APLICATIVO SKYPE]

FATINE OLIVEIRA: Tudo bem para começar a gravar?

ALDENORA: Aí na gravação tu pode deixar rolar até o fim, sabe? Não precisa se preocupar em parar o áudio, algo nesse sentido, deixa rolando até o fim, tá bom?

FATINE OLIVEIRA: Tá jóia, então.

ALDENORA: Vou botar aqui para gravar também para reserva.

FATINE OLIVEIRA: Vamos salvar em todos os lugares, né?

ALDENORA: O trecho dessa conversa que eu tive com a Fatine Oliveira que a gente colocou aqui, ela foi rotineira nesses meses em que gravamos tudo. A gente tentava captar os áudios de todas as formas possíveis para não perder nada. Precisávamos tomar bastante cuidado porque era um material muito precioso. Além da Fatine, que contribuiu como pesquisadora e também por ser uma mulher com deficiência, trazendo as vivências dela, a gente também entrevistou outras mulheres que nos trouxeram dados e fatos sobre a realidade de PCDs nas diferentes regiões do país, o que foi crucial, né?


JADE: Exatamente! O processo de pesquisa foi muito importante na nossa caminhada. Fizemos também, lá naquela primeira reunião que já falamos aqui, a divisão das funções para série o que contribuiu para que cada uma pudesse focar no seu objetivo, e também ajudar a construir tudo coletivamente. Foi um aprendizado, viu. E nisso tudo, eu queria destacar a importância da mentoria realizada pela Joana Suarez da Revista AzMina que foi fundamental nesse processo e também o apoio financeiro a partir da parceria com a Campanha Nem Presa, Nem Morta, sob o selo do Futuro do Cuidado - justiça reprodutiva em tempos de pandemia. Sem elas, não conseguiríamos colocar a série no ar.


ALDENORA: Agora voltando a falar sobre esses pontos mais administrativos, essas demandas, fizemos também um cronograma extenso e detalhado para contemplar todo o projeto, mas claro, não foi seguido tudo à risca. Foram quase quatro meses de trabalho que envolveu pesquisa, produção, roteiro, edição de áudio, de vídeo, construção de identidade sonora, visual, enfim, muitas tarefas e também muitos imprevistos. Porque até então não tínhamos tanta experiência na execução de projetos com essa duração. Eu e a Ananda, que ficamos responsáveis por essa parte administrativa, refizemos esse cronograma várias vezes. Foi sufoco tentar alinhar datas e pensar nas funções e prazos e cumprir tudo direitinho.


JADE: Demais! E isso era ainda mais complicado quando tinham imprevistos. Tivemos a perda de um áudio de uma das entrevistadas, a incompatibilidade de horários para marcar algumas entrevistas, o que acabou tendo um efeito cascata com atraso de roteiro, atraso na edição de áudio e também na gravação dos vídeos em libras.


ALDENORA: Fortes emoções! Só que isso acabou sendo contornado e conseguimos, depois dos sufocos, entregar a série dentro do prazo que estipulamos para cada episódio. O que, no final, era o mais importante, né, entregar tudo. A gente podia fazer os ajustes que fossem dentro do cronograma interno, mas tudo deveria ser feito para que a gente conseguisse colocar a série no ar no mês de junho, que foi definido desde o princípio do projeto.


JADE: Pois é. A gente conseguiu tudo isso principalmente porque trabalhamos em equipe, dividindo funções, organizando tudo para dar certo. E nesse processo, eu particularmente sinto que aprendemos a lidar melhor com os imprevistos que são inevitáveis. Apesar dos surtos e estresses, tivemos muito amor e compreensão envolvidos em todas as etapas, o que permitiu que tudo saísse até melhor do que o planejado.


ALDENORA: Eu até me emociono quando tu toca nesse assunto, sabe? Porque cada uma sentiu a série de uma forma né. E acho que por isso que tivemos a ideia de fazer esse episódio extra contando os bastidores. Porque, de uma maneira ou de outra, com tantos sentimentos envolvidos, acho que todas nós aqui do Malamanhadas compartilhamos de um sentimento especial, que nos une, de certa forma, que é o sentimento de orgulho pelo resultado da série. E é algo que também é perceptível em quem participou tanto enquanto protagonista, como fonte, e também para os nossos ouvintes que são pessoas que toparam trazer resses relatos pessoais para esse episódio extra.


[VINHETA DA SÉRIE JUSTIÇA REPRODUTIVA]



ALDENORA: Ouvindo a gente falar sobre esse processo de produção, me veio aqui as lembranças de tudo que senti quando eu tava fazendo as pesquisas, discutindo os direcionamos, formatos e roteiros muito com a Ananda, né, que a gente fez esse trabalho muito juntas. Porque assim, produzir um conteúdo 100% acessível era uma vontade que a gente já tinha há muito tempo. Eu lembro que em várias das nossas reuniões, a gente compartilhava do mesmo desejo que era de fazer com que o Malamanhadas tivesse episódios transcritos no site e também traduzidos em libras. Por isso que foi para mim pelo menos uma realização profissional mas, sobretudo pessoal, fazer essa série, participar de todo o processo e, além disso, conseguir financiamento para esse sonho.


JADE: Sim! Esse nosso desejo vem de muito antes. E eu acrescentaria que junto com esse orgulho de ter conseguido tirar do papel essa nossa vontade, a gente aprendeu muito, né? Porque foram mais de quatro meses produzindo esse material, lidando com um cronograma mais extenso e com essa que foi a nossa primeira série narrativa. Aprendemos bastante seja na produção de podcast e também no trabalho em equipe.


ALDENORA: Mas sabe, Jade, eu acho importante a gente também destacar o desdobramento durante as entrevistas que a gente fez e que não foram poucas. E isso exigiu uma força tarefa da equipe porque todos nós temos nossos trabalhos e horários completamente diferentes uma da outra. Então, sempre que tinha alguma entrevista para marcar, a gente colocava a data e horário no nosso grupo para saber quem estaria disponível para fazer aquela entrevista. E além disso, construíamos juntas o roteiro de perguntas. A gente fazia ajustes nos outros compromissos para conseguir se adaptar e fazer tudo dar certo.


JADE: Exatamente! E tiveram também entrevistas que demoraram semanas pra gente conseguir conciliar os horários. E para além disso, essa experiência também fez com que nós tornassemos o projeto mais humano, já que conversamos com as personagens durante as entrevistas sobre esses desencontros. E que foi essa uma das principais considerações que fizemos no começo, né? Que não desejávamos, de maneira alguma, que esse fosse um projeto em que apenas pegássemos o depoimento das entrevistas e pronto. Era importante pra gente, para o projeto, para o resultado de tudo, que mantivéssemos o contato com todas as nossas entrevistadas e que toda essa relação acontecesse da forma mais aproximada e humana possível.


ANANDA: Foi ótimo, muito bom mesmo. A gente estava ansiosa por essa entrevista. Acabou que não deu certo na última sexta-feira por alguns problemas, mas eu agradeço muito, tá? Pelo tempo, pela entrevista, que estava muito assim. A gente viu o seu nome e entrevistas nacionais e chegou a sua pesquisa, enfim, só agradecer mesmo, viu?


ÉRIKA THOMAZ: Imagina, eu que agradeço a oportunidade, inclusive fico muito grata por poder falar sobre isso e ajudar, né? De alguma forma, contribui para dar mais visibilidade a essa população que é tão carente de política pública e que precisa acessar melhor, né, ter melhores condições de vida. Obrigada Ananda.

ANANDA: Tá bom, eu vou parar com a gravação, logo.


JADE: Deu para sentir nessa conversa da pesquisadora Erika Thomaz com a Ananda que a gente acabava encontrando muita compreensão das nossas entrevistadas. E não só delas. Eu tive muita ajuda de amigos que nem faziam parte do projeto. Durante as gravações dos vídeos em libras, por exemplo. E sem eles teria sido bem difícil porque o trabalho audiovisual, que foi algo novo dentro do Malamanhadas, exige a coletividade. Então, conta também como um ponto de aprendizado dentro dessa série.


ALDENORA: Pois é, Jade. A gente destacou aqui alguns trechos das falas das nossas protagonistas para a gente relembrar tudo isso que sentimos durante a produção dos episódios. Vamos ouvir?


SAYAKA FUKUSHIMA: A noção de ser mulher com deficiência auditiva só veio bem depois. Porque parece que a ficha caiu, sabe, quando eu vi assim, “poxa, eu to perdendo a audição, a audição boa que me salva, que eu escutava todo mundo, tava perdendo, aí foi quando a ficha caiu, e eu disse: não, eu tenho que fazer alguma coisa, eu tenho que me mobilizar, eu tenho que entrar nos conselhos, sabe, eu acho que isso de entrar em todos os meios que a gente puder, para ter a representatividade, né, é importante. E mulher então. Mulher participa pouco, infelizmente. Pelas questões assim, a gente tá no meio de conselhos muito machista, muito só de homens, feito de homens, as associações de homens, né.


MÁRCIA GORI: Ó, uma história engraçada. O meu marido mesmo quando eu engravidei da minha filha mais velha, eu fui fazer a pesagem, né? Ele me pegou no colo, né, no pré Natal, ele pesou nós dois e depois tirou o peso dele, né? A enfermeira: “Nossa, seu pai é tão forte.” Aí falei: “Não é meu pai, é meu marido!”. A moça desapareceu. Nunca mais eu vi ela de tanta vergonha. Então vai saber o que se passava na cabeça dela, sabe? Se eu não fui estuprada, alguém se aproveitou de mim. Sabe, aquela coisa toda, né? “Coitadinha, grávida”, “Nossa, como é que você ficou grávida?”, “Nossa, como é que você tem seus filhos?”, “Nossa, como é que você cuida dos seus filhos?” Ai, para com isso, gente! Entendeu? Eu já sou um pouquinho mais debochada, né? Quando pergunta para mim assim, “ai, como é que você ficou grávida?” Aí eu já explico já o B-A-BÁ certinho. Mas para a pessoa ver que eu sou uma pessoa normal, pôxa. Ô pergunta mais, né tolerância zero, né? Pergunta idiota. né?


MARA ANDRADE: Sempre a gente sai só com as nossas crianças, como muitas das vezes o Darwin vai para a casa do pai biológico, né? Sai também eu, meu marido, né que também não enxerga e a nossa pequena. E muitas vezes a gente senta mesmo por aqui, pela frente do condomínio. A gente tem, claro, um cuidado. A gente tem muita conversa com ela, ela sempre está brincando em volta da gente. Não se afasta muito, sempre ela está vindo “mãe, tô aqui, papai, tô aqui” porque já é uma coisa que a gente trabalhou desde pequenininha, né? com ela. Só que as pessoas né, elas sempre tão ali no nosso pé, sabe? “Ah tem que ter cuidado com ela, porque vão acabar levando, vocês não enxergam!” e toda aquela coisa. Inclusive isso, sinceramente, destrói muito o vínculo de mãe e filho. Posso falar de pessoas que eu conheço, que não tem coragem de sair só com os filhos por esses comentários. Isso não acontece só comigo, sabe?


ÂNGELA TEIXEIRA: Hoje eu sou uma nova mulher, sabe, houve muitas mudanças na minha vida, eu amadureci, eu aprendi a ser mãe, a ser mulher e foi uma mudança, não foi fácil, né, com o nascimento do meu filho, esses 28 anos, não foi muito fácil, mas eu consegui vencer. Hoje eu me considero uma mulher mais madura, mas cabeça aberta, sabe, eu sou muito amiga do meu filho, sabe, eu converso muito com meu filho, eu sou muito aberta para ele, voltei a estudar pra dar a ele um exemplo bom.


JADE: Esses trechos que vocês acabaram de ouvir foram retirados das entrevistas que fizemos com as nossas protagonistas. Eu vou citar o nome delas na ordem que colocamos aqui: o primeiro é da Sayaka Fukushima, depois ouvimos a Márcia Gori, em seguida, a Mara Andrade e, por fim, a Ângela Teixeira. Essas falas não foram utilizadas durante a série e achamos que elas super casaram aqui neste episódio de bastidores porque reforçam o quanto essas mulheres sempre terão algo mais a contribuir e que a série foi apenas um recorte do recorte da vida delas.


[VINHETA DA SÉRIE JUSTIÇA REPRODUTIVA]


ALDENORA: O massa de ter conseguido publicar essa série foi ter tido tantos feedbacks. Saber o que nossos ouvintes de tanto tempo, acharam da produção, e até das nossas protagonistas também, que são parte fundamental disso tudo! E por isso, a gente vai encerrar esse episódio trazendo esses relatos tão especiais e carinhosos que vamos levar com a gente pra toda a vida.


JADE: Para começar, vamos escutar o feedback de dois ouvintes.


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]

PÉTALA MEDEIROS: É uma série difícil de acompanhar, de escutar sem se emocionar, como também de repensar sobre tanto o que não é dito e o que é dito, mas não com suas próprias vozes.


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]


[EFEITO SONORO DE GRAVAÇÃO DE ÁUDIO]

MATEUS OLIVEIRA: Me trouxe várias indagações e me fez perguntar a mim mesmo como estão as mulheres, pessoas com deficiências pelo país, pelo Brasil.


JADE: A Pétala Medeiros e o Mateus Oliveira deixaram esses relatos para gente logo após o fim da série. E uma curiosidade: eles dois, juntos com a Erllen Duarte fazem parte da Oxé Normalize, empresa que contratamos para fazer a transcrição de todas as entrevistas que realizamos ao longo da série, o que também contribuiu muito para que a série fosse entregue dentro do prazo. E já que estamos falando das entrevistas, queria dizer que os relatos que colhemos tem trechos que eram muito fortes de ouvir, tanto para a equipe de transcrição, quanto pra gente. Quando eu tava fazendo o processo inicial de edição dos áudios também fiquei muito impactada com alguns relatos. Confesso que para mim, o episódio sobre aborto foi o mais dificil de ouvir. E pra ti, Aldenora?


ALDENORA: É muito pesado pra gente que faz toda a produção, roteirização e edição, né? Porque a gente tá ali o tempo todo em contato direto com os relatos e com os dados. Muito material, inclusive, que não chega aos ouvintes e que a gente faz essa triagem. A etapa mais difícil para mim foi a roteirização. Como foi um processo feito em dupla, eu e a Ananda conversávamos muito sobre como seria a estrutura desses episódios e como definiríamos a abordagem de cada tema. E a gente dialogava, pesquisava muito para construir roteiros humanos e respeitosos. Para mim, os mais dificeis de roteirizar nesse processo todo e também de ouvir depois que feito e publicado, foram dois em específico, que foi o de violência obstétrica e o de aborto, que são temas muito sensíveis, necessários e também dificeis de ouvir, como falei um pouco antes. E eu lembro que passei semanas sem conseguir estruturar o roteiro desses episódios. O que acho que até foi um dos motivos de atrasos no cronograma eu lembro mais ou menos da gente ajustando isso. E isso aconteceu porque simplesmente eu não conseguia avançar por receio de abordar esses temas de forma errada ou que, de alguma forma, a gente estivesse expondo desnecessariamente as nossas protagonistas que confiaram as histórias relatadas na nossa mão. Uma situação que eu queria trazer aqui foi sobre o aviso de gatilho que colocamos no Episódio 36, que foi o sobre violência obstétrica. Quando eu e a Ananda finalizamos o roteiro, enviamos para a Denise que sempre lia todos para avaliar se não estávamos sendo capacitistas e também se o conteúdo não estava sendo desrespeitoso de alguma forma, né. E eu lembro que foi a Denise que sugeriu que colocássemos o aviso de gatilho porque ela ficou muito impactada com os relatos. E a partir disso a gente se reuniu ali, no nosso grupo de aplicativo de conversas para decidir sobre isso, conversamos com outras pessoas que não participavam da série. Enfim, a gente decidiu tudo isso para fazer com que aquele tema chegasse às pessoas de uma forma mais correta, responsável e que não engatilhasse as pessoas porque, enfim, são relatos muito pesados. Isso ficou bem marcado na minha memória.


JADE: Muito importante esse teu relato. Falando um pouco mais da edição dos áudios que citei antes, também não podemos esquecer dos desafios desse processo. Eu e Ananda ficamos responsáveis pela identidade sonora, edição e montagem da série. Eu particularmente acho que a gente acabou se desafiando a buscar novos estilos que pudessem casar com a temática da série. Um trabalho bem puxado e gratificante para nós que gostamos e temos mais afinidade com essa parte. A Ananda também tem um relato pessoal sobre esse processo. Vamos escutar!


ANANDA: A gente pensou em fazer uma identidade sonora específica pra série, né, porque a gente queria dar um destaque a ela, trazer esse material diferenciado do que a gente já vinha trabalhando. A gente já tinha feito outras séries, mas utilizava a mesma vinheta, a vinheta do Malamanhadas. Então, foi um trabalho feito justamente pra destacar a importância dessa série e colocar no imaginário de quem estivesse escutando que aquele material era único e tinha uma sequência, diferente dos episódios do Malamanhads que a gente utiliza a mesma vinheta sempre, a gente queria colocar que ao escutar aquela música, a vinheta e a sonoridade que a gente fez para a série ia remeter àquele tema, aquela temática. Então, foi muito interessante assim, as semanas que a gente passou, escolhendo a trilha, indo em vários bancos. Falando também sobre essa questão de identidade, casando um pouco com o que eu fazia que era editar foi também muito massa assim procurar, você ler no roteiro, o roteiro indicar alguma sonoridade, algum efeito e você mesmo ir lá procurar, testar. Então, o bom de podcast narrativo é isso, que ele te ele te tira um pouco dessa comodidade que é daquele lugar de sempre de editar, de fazer uma edição mais simples. Ele vai te dar uma abertura maior pra você se inovar também, para você sair um pouco da sua caixa de conforto. Então, muitas vezes no roteiro tinha só uma indicação de um efeito ou uma indicação de uma trilha e você ia lá e procurava, te abria mais a mente para as possibilidades de edição. E o material você se sente mais empolgado de fazer aquele trabalho. Então, eu acho que é isso.


JADE: Assim como tivemos episódios bem difíceis de roteirizar e editar pela força dos relatos, nós também tivemos episódios que foram um refresco. O segundo episódio da série, por exemplo, em que nós montamos uma roda de conversa, foi um desses bem leves e divertidos. A Maria Paula que também é nossa ouvinte fiel falou especificamente sobre ele. Vamos ouvir?


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]


MARIA PAULA: Eu queria comentar a série justiça reprodutiva, o episódio direito ao afeto e sexualidade. Achei um episódio incrível, com mulheres incríveis e é muito bom poder ter essa perspectiva, né? De como o afeto e a sexualidade eles se dão em corpos diferentes do meu e como é importante pra gente ouvir outras mulheres. Eu queria dar parabéns para o Malamanhadas, pras meninas e dizer que elas souberam muito bem conduzir esse debate.


ALDENORA: A ideia de reunir as nossas protagonistas para discutir sobre a perspectiva do sexo para as mulheres com deficiencia aconteceu na nossa primeira reunião de pauta. A Ananda Omati, nossa Malamanhada, ficou responsável por reunir essas mulheres e fazer com que elas discutissem a questão da sexualidade aliada às suas vivências. E, por isso, eu vou chamar a Ananda aqui para contar pra gente como foi esse processo.


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]


ANANDA OMATI: Sobre a experiência de ter marcado uma roda de conversa online, foi bastante desafiadora porque geralmente roda de conversa você faz presencial, né? E eu tive essas experiências com gravação de vídeo, então foi de certo modo “mais fácil”. Mas foi desafiador porque você marcar uma roda on-line com pessoas que estão em lugares diferentes foi bem difícil encontrar uma data, apesar delas se mostrarem bastante disponíveis e da vontade delas de quererem gravar. Mas aí deu certo e a gente acabou fazendo uma dinâmica bem legal que dava pra todas participarem e todas se sentirem à vontade, porque eram entre elas, elas iam falar de intimidades, apesar de colocar pontos de vistas em temas, mas elas falavam da intimidade delas. Então, foi bem interessante nesse sentido o quanto a ideia deu certo, sabe? Por um momento eu achei que era muito improvável, era uma coisa que não daria certo, que era inviável. Mas deu certo, acabou que deu certo. A gente fez outros tipos também, tipo a gente fez uma roda e fez outro encontro. E teve algumas, algumas não, teve só uma que não pôde participar e aí a gente teve que adaptar, fazer as perguntas depois, mas deu super certo.


JADE: Eu vou aproveitar a deixa da fala da Ananda, para colocar para tocar os depoimentos de algumas das nossas protagonistas sobre como foi participar da série. A primeira a falar é a Márcia Gori. Vamos ouvir?


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]


MÁRCIA GORI: Passando por aqui pra dizer que todo o material ficou maravilhoso, tanto a entrevista n’AZMINA, quanto o podcast. Ficou lindo, lindo, lindo. Amei, amei amei, amei. Parabéns pra todas nós, vocês são fantásticas. Nossa, foi uma honra participar de todo esse projeto. Muito obrigado pela oportunidade. Um beijo no coração de cada uma de vocês.


ALDENORA: A gente fica feliz demais em saber disso, Márcia. O contato com as personagens foi com o intuito de criar laços e por isso eu aproveito aqui e trago o relato da Mara Andrade, outra protagonista da série que tocou no ponto essencial para gente durante toda a construção desse projeto. Vamos escutar?


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]


MARA ANDRADE: Ppra mim gravar o podcast, se eu pudesse resumir em uma palavra, foi terapêutico. Porque eu eu percebi esse momento como uma autoanálise. A gente vive a nossa vida, a nossa correria do dia a dia, meio que de forma automática, né? A gente vai vivendo, vai fazendo, vai dizendo sim, vai dizendo não. E muitas vezes a gente não para pra refletir sobre isso tudo. Então, quando me foi perguntado coisas sobre a minha vida, sobre meu marido, meus filhos, eu comecei a olhar pra trás e comecei a pensar, né? Quem eu sou? Que tipo de mãe eu sou? Como que é minha vida, qual atitude eu tomo para certas ocasiões, enfim como são meus filhos, meu marido. Então, eu pensei tudo isso e tipo, deu uma riqueza de detalhes assim que muitas vezes não percebo. Então, eu achei que isso foi muito interessante pra mim e foi muito bom o bate-papo também, foi bem gostoso, bem legal. Como eu falei, foi terapêutico.


JADE: Fazer com que as protagonistas da série se conhecessem, debatessem sobre ser mãe e mulher com deficiência e falassem da visão sobre sexo e outros temas, era um dos nossos objetivos desde o começo. Ter essa roda de conversa, talvez tenha sido uma das principais metas que queríamos que acontecesse. Foi muito especial. Com esse relato da Mara, sentimos aquele gostinho de trabalho realizado com sucesso. Obrigada, Mara!


[VINHETA DA SÉRIE JUSTIÇA REPRODUTIVA]


JADE: Agora vamos ouvir quem colocou a mão na massa junto com a gente para fazer com que a nossa série tivesse o resultado incrível que teve. A Vitória Ribeiro, que foi nossa intérprete de libras, a Denise Santos, nossa consultora de conteúdos acessíveis e o Moura Alves, responsável pela identidade visual. Eles puderam partilhar um pouco dessa experiência de construção da série para esse episódio bastidores.


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]

VITÓRIA RIBEIRO: Oi, eu sou Vitória Ribeiro, intérprete de libras. Pra mim foi incrível poder participar da série Justiça Reprodutiva da Malalamanhadas. Me sinto muito grata por ter recebido esse convite pra poder fazer parte dessa família, pra poder levar a acessibilidade pra várias pessoas que assistiram, compartilharam, ouviram cada história de cada participante que foi compartilhada durante as séries. Fazer parte de um conteúdo acessível, me deu a oportunidade muito maravilhosa de conhecer a audiodescrição que antes eu não tinha um conhecimento, como eu tive nessa experiência toda, nesse projeto incrível e eu sou muito grata por ter feito parte desse projeto com essas meninas incríveis.


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]


DENISE SANTOS: Olá, eu Denise Santos aqui também passando pra deixar o meu feedback sobre a série Justiça Reprodutiva do Malamanhadas com foco nas mulheres com deficiência. Bom, primeiro dizer que pra mim foi um aprendizado assim muito grande tanto no que diz respeito a troca, em relação às temáticas dos episódios da série, cada episódio uma temática diferente e cada temática com muito conteúdo pra gente absorver, pra gente aprender e pra gente trocar, a partir dos diálogos que nós tivemos tanto em off como no próprio podcast. Então, foi um um ganho assim muito grande pra mim no sentido do aprendizado e também em relação ao aprendizado na produção. Tive também essa troca com as meninas mais de bastidores nessa dinâmica da produção, pude acompanhar um pouquinho dessa parte também, então pra mim foi muito enriquecedor nesses dois viés do aprendizado né? Fora que conhecer a história de vida dessas mulheres maravilhosas que participaram, que passaram pelos episódios, cada história mais incrível que a outra, então enfim o meu feedback é esse e foi maravilhoso participar dessa dessa produção.


[ENTRA DE ÁUDIO DE WHATSAPP SENDO GRAVADO]


MOURA ALVES: Oi Malamanhadas! Bem, eu sou o Moura Alves e como bem fez a série, eu acho necessário começar a me autodescrevendo. Eu sou um homem negro com todo o peso que essa palavra carrega, de pele escura, tenho 1m75cm ou 1m76cm de altura, cabelos crespos, meio cacheados, na altura do pescoço. Eu uso óculos de grau arredondado, um pouco grande. Tenho o nariz bem avantajado e um pouco achatado. Minhas sobrancelhas também são bem grossas. Nesse momento eu uso uma camisa preta, eu quase sempre estou assim, e uma bermuda cinza. Essa é a minha aparência. Minha contribuição na série foi bem simplória. A gente procurou ampliar a cartela de cores que o podcast já vem adotando e o que contemplou bem não só a proposta da série, como os valores do Malamanhadas, sobretudo no que ela se propõe a promover a diversidade, seja ela de crenças, de etnia, de modo de pensar, de agir, de modos de reivindicar nessas múltiplas vozes e através das cores e das formas, a gente tentou trazer um tiquinho dessa diversidade pras capas dos episódios e o mais gratificante de participar, pelo menos pra mim, foi ver a qualidade do material que foi produzido. Eu acho que as meninas conseguiram chegar em outro em outro patamar no quesito produção, sabe? O Malamanhadas subiu alguns degraus com essa série e é muito bonito ver a qualidade desse material e a importância dele também.



JADE: Acho que esses relatos deixam claro tudo que vivemos nesta série. Muito obrigada a cada um que contribuiu para esse projeto novo para gente.


[VINHETA DA SÉRIE JUSTIÇA REPRODUTIVA]


ALDENORA: Esse episódio também serve para dizer o quanto nos sentimos abraçadas e felizes por poder realizar essa série. Obrigada a todo mundo que contribuiu durante essa caminhada com a gente.


JADE: E lembrando, se você ainda não ouviu a série Justiça Reprodutiva para mães e mulheres com deficiência, volta lá no nosso feed e maratona. Os episódios também estão disponíveis com a tradução em libras no nosso canal no youtube Malamanhadas e transcritos no site: malamanhadas.com


ALDENORA: Eu sou Aldenora Cavalcante, locutora e roteirista desse episódio. A Jade Araújo também é responsável pela locução e roteirização do episódio. A Ananda Omati é responsável pela identidade sonora, montagem e edição dos áudios.


JADE: Agradecemos a todas, todos e todes e até o próximo episódio.


[VINHETA DA SÉRIE JUSTIÇA REPRODUTIVA]


FIM DO EPISÓDIO

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