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  • Foto do escritorMalamanhadas

É sobre cocô

Você já ouviu falar que o intestino é o segundo cérebro? Ou que sua forma compacta esconde um cumprimento gigantesco de 250 m²? Se não, provavelmente também você não ouviu falar sobre o quanto os problemas mentais estão ligados à problemas intestinais. Pois bem, quando descobri ser intolerante à lactose, eu passei por uma crise severa. Tinha consumido produtos com muito leite. Foram três dias vomitando e com diarreia. Até então a possibilidade de não produzir mais a lactase não passava pelas minhas suspeitas, mas o exame confirmou o que o médico obviamente previa.


Ser intolerante à lactose significa que o seu corpo, ou mais especificamente o intestino delgado, não produz a enzima que quebra o açúcar o leite. Significa basicamente que quando você come algo que contém leite ou seus derivados, por exemplo, o intestino vai expulsar e reagir em pouco tempo. O alimento chega ao intestino grosso de forma inalterado pelo intestino delgado. É aí que aparecem os sintomas, já que as bactérias presentes no intestino grosso acabam retendo água e com isso vão surgindo as dores de barriga e diarreias, principalmente.


Dito isto, volto para antes da minha crise que culminou no diagnóstico de intolerante à lactose. Religiosamente, passei meses sentindo vontade de fazer cocô logo após comer alguma coisa, especificamente depois das três principais refeições. Era um sofrimento sem fim, porque eu só retornava para casa à noite, enquanto isso, ficava sentindo gases se acumulando no estômago – o problema também se agravava porque eu sou adepta ao banho depois de fazer cocô, ou seja, nada de fazer cocô fora de casa. Por aí se foram meses, ou até mais, de uma carência no organismo que era convertida em muita ansiedade e afetava ainda mais no meu quadro depressivo.


é que os neurônios intestinais produzem serotonina, inclusive li uma vez que quase 90% da serotonina em nosso corpo é gerada pelo intestino

Acontece que o cérebro de fato é o órgão que tem mais neurônios no nosso corpo, mas o intestino também se constitui por essas células o que torna tudo um fascinante sistema nervoso próprio, que independe do comando cerebral para funcionar. Outro dado perdido, porém importante, é que os neurônios intestinais produzem serotonina, inclusive li uma vez que quase 90% da serotonina em nosso corpo é gerada pelo intestino. Com isso, existe uma comunicação essencial entre o que está debaixo do nosso umbigo e o que está na nossa cabeça. Fascinante, não é? Mas além disso, temos também a nossa flora intestinal que é de suma importância para a regulagem do intestino.


Em pesquisas recentes pude ver que é da área intestinal a explicação para muitos problemas mentais que nos carrega no dia-a-dia e que contribui para uma doença como a depressão. Nessa ligação entre os neurônios do intestino e o cérebro temos as bactérias intestinais que como já havia dito ela ajuda no controle do nosso corpo, mas isso porque além das más bactérias, temos bactérias boas o suficiente para a manutenção da ordem. No entanto, quando a presença dessas bactérias do bem estão em menor quantidade comparada as más, aí é que começa o problema e a desordem, porque elas afetam a comunicação entre intestino e cérebro.


É por isso a importância de uma boa alimentação. Quanto mais alimentos gordurosos, mais a permanência dessas bactérias que vão mais nos prejudicar do que ajudar. Literalmente a gente pode muito bem estar se tratando mentalmente a partir do que escolhemos para comer. É claro que uma depressão ou uma crise de ansiedade ela não surgiu exclusivamente por conta das besteiras que comemos diariamente, mas elas são potencializadas sim. Estudos recentes – porque lendo, percebi que essa área e muitas dessas informações são resultados de pesquisas atuais – mostram que a ansiedade que é quase unânime na nossa sociedade, o estresse, a insônia e outros fatores estão diretamente ligados ao funcionamento ou não do intestino. Há pesquisas que apontam até mesmo na alteração de comportamento, caráter.


Literalmente a gente pode muito bem estar se tratando mentalmente a partir do que escolhemos para comer

Eu não tenho vergonha de dizer que faço muito cocô, praticamente vou ao banheiro para unicamente defecar umas duas vezes ao dia, às vezes acontece de ser sempre após uma refeição. Isso porque eu também tenho mais um problema intestinal – desgraça pouca é bobagem, né? Também tenho síndrome do intestino irritável, o que de novo volta para a questão da alimentação. Além de não poder consumir o que tem lactose, também posso ter diarreias, dores e inchaços comendo outros tipos de alimentos e até mesmo consumindo bebidas alcoólicas específicas. Existe inclusive um aplicativo chamado FoodMap que ajuda a conhecer quais comidas fazem mal para quem tem a síndrome.


Parece tudo muito difícil e é. Mas ter consciência dessas limitações foi bastante importante para lidar com a depressão. Eu falo muito de cocô, de peido e ridicularizo as situações que passo por conta desses sintomas. Acho que de alguma forma quem tem intolerância à lactose ou algum problema sério intestinal sabe que você também vai perdendo um pouco do pudor em falar sobre algo que é natural para todo mundo, como o ato de fazer cocô e de liberar os gases. Conciliado a esse deboche, o ideal mesmo é cuidar da alimentação. Não sou adepta às regras de restrição alimentares por completo, mas ter consciência de suas limitações e variar o cardápio é crucial para fazer um cocô igual ao do emoji.

Texto escrito por Ananda Omati.

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