como diz o título de um conto da grande e potente Conceição Evaristo: "a gente combinamos de não morrer".
eu começo o texto dizendo isso, porque com toda a loucura de uma pandemia mundial, a morte tá espreitando na nossa porta. os números crescem e a vida nunca foi tão frágil. ficar em casa é a salvação. lavar as mãos é a nossa proteção. mas só isso não basta. a violência doméstica ainda é uma realidade. no meio das notícias sobre respiradores, sistemas de saúde que colapsaram com o número de pessoas infectadas, estão as sangrentas e antigas notícias sobre feminicídio, assaltos, arrastões. ainda temos que lidar com a depressão, ansiedade, vontade de sumir desse mundo caótico. mas como fazer isso? qual a fórmula? qual o jeito de continuar sobrevivendo-vivendo-existindo-respirando?
longe de mim deixar aqui o tutorial pra você não perder a cabeça, porque isso faz parte dessa experiência de estar na terra. chorar muito. ficar um pouco doido. pensar que o mundo tá de cabeça pra baixo. se desafiar a transformá-lo. TÁ TUDO BEM. você é humana, humano, ser, você sente. sentir, faz parte do que somos. tem uns que sentem mais que outros, acho. e tá tudo bem também. não existe o certo e o errado. e não precisa escapar da loucura, vontade de gritar, roer as unhas. faz tudo isso, porque você tá viva. aí depois você vai ver vídeo de filhotes brincando, dá um abraço apertado na pessoa que mora com você. fala que ama sua mãe. faz um vídeo dançando na frente do espelho. se permite ser essa pessoa bagunçada-bagunceira-descontrolada.
você não vai morrer hoje e sabe como você vai passar por tudo isso?
vivendo. porque essa é a única saída. Texto escrito por Camila Hilário.
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