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O problema da insegurança

Convivo com mulheres inteligentes que se esforçam incessantemente para buscar o pão de cada dia, acordam de madrugada e pegam dois ônibus lotados para ir ao trabalho e ainda precisam ler os textos da faculdade para a aula do dia seguinte, cobrem as olheiras com maquiagem, sangram todo mês, suportam cólicas, TPM e menopausa. No entanto, mesmo com todo esse cotidiano puxado, exercido pela maioria das mulheres, observo-as propagando um falso discurso de inferioridade, diminuindo todo e qualquer trabalho produzido por suas mãos. Depois de diversas situações vivenciadas e constantes problematizações sobre o assunto, constatei a existência de mecanismos explícitos e implícitos que oprimem as mulheres de modo a se sentirem inseguras, inferiores, incapazes e frágeis.


Para falar de alguns mecanismos que estão bastante explícitos no meu cotidiano, baseio-me no livro “Feminismo em Comum” da escritora Márcia Tiburi, mais precisamente no capítulo que trata sobre os tipos de trabalhos, remunerados ou não, que a mulher é condicionada a exercer pela simples justificativa do seu DNA. A divisão do trabalho baseada na ideia naturalista sobre as potencialidades de mulheres e homens é considerada arcaica. É o mesmo que dizer que menina veste rosa e menino veste azul, ao passo que ainda podemos observar no mercado de trabalho uma maior aceitação de mulheres para cargos de constante exposição visual, como secretárias, aeromoças, jornalistas e etc.


Esse tema é mais discutido no livro “O Mito da Beleza” da escritora Naomi Wolf voltado para a questão da aparência da mulher como uma forma de opressão. A escritora feminista explica lindamente o que ela chama de qualificação de beleza profissional no caso da jornalista Christine Craft, demitida por ser velha demais, pouco atraente e desrespeitosa para com os homens. Christine entrou com um processo contra o telejornal por discriminação sexual, mas a jornalista perdeu a causa sob a justificativa de não se tratar de uma discriminação sexual e, sim, de uma lógica comum de mercado.


Casos como o de Christine Craft reforça a qualificação profissional de uma mulher pela beleza, visto que a crescente procura por procedimentos estéticos, o medo de envelhecer, o repúdio aos cabelos grisalhos são reflexos sutis de uma opressão que preocupa a saúde mental e física de muitas mulheres. A Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas destaca o crescimento em progressão aritmética de procedimentos estéticos principalmente em jovens. Em resumo, a interpretação dos dados expostos tem como gênese a naturalização de conceitos e regras impostos por uma classe dominante, funde-se ao pensamento de que quem mais sofre com essas opressões, as mulheres citadas no começo do texto, muitas vezes não reconhecem o que Pierre Bourdieu chama de violência simbólica “[...] é a coerção que se institui por intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominante” (BOURDIEU, 2003, p.47), e aquelas que conseguem identificar lutam como podem, muitas vezes são boicotadas, conseguem algum direito ou servem de exemplo para outras mulheres.


Desse modo, é preciso oferecer medidas efetivas que discutam a relação da mulher com o corpo e a mente, por isso rodas de conversa são de suma importância para a interação com outras mulheres, refletir sobre temas pertinentes e o compartilhamento de histórias de vida são uma das formas de resistir. É na união que nos tornamos mais forte, por fim, é dando as mãos que nos tornamos um só.



Texto escrito por Nariani Lopez.

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