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  • Foto do escritorMalamanhadas

Eu sou da terra do sol

Queria deixar de lado toda essa tensão de pandemia e falar do sol.


De onde eu vim, o sol arde na pele quente. Queima o rosto e o peito como quem quer que estejamos sempre atentos a sua presença. Como quem diz: ei, você precisa me sentir, eu estou aqui. O guarda-chuva serve para amenizar a luz forte de todos os dias que derrete os chocolates guardados por amor, batons vermelhos dentro do bolso e me deixa pingando de suor. Dias de chuva é um acontecimento incrível, você lembra, minha amiga? Para quem não sabe, de onde eu vim, em dias de nublados dizemos que está bonito para chover. É um burburinho que corre pela cidade, como quem não acredita que aquelas gotas molhadas vindas do céu é chuva e não suor do nosso próprio corpo. É quase um delírio coletivo.


Quando parti rumo ao outro lado do oceano onde todo dia é dia de chuva, não sentir o sol queimando a minha pele, me entristeceu. O inverno de chuva, mofo e vento frio me deixou cinza, quase sem forças. Procurava qualquer coisa que me faria sentir viva e procurava o sol todos os dias. Foram muitas as vezes que corri de casa em direção ao pôr-do-sol que acontecia nas margens do Rio Douro, ali perto da ponte. Eu precisava daquele espetáculo para me sentir viva. Eu e o sol.


Sabe, minha amiga, eu nunca imaginei o quanto o sol me fortalecia. Você também sente isso? Eu não tinha ideia da minha conexão com essa estrela de que tanto reclamávamos na infância e, depois, nas conversas do cotidiano em todas as fases da nossa vida.


Com um mês vivendo no isolamento social, me reconectei com o sol. Aqui houveram duas semanas inteiras, minha amiga, i-n-t-e-i-r-a-s de sol! Eu acordava pensando no sol da tarde que ia sentir na varandinha da sala. Era o acontecimento do dia. Nessas horas de sol, me emocionava. Feliz, fortalecida. Quente. Com a pele ardendo. Pulsando vida. Nessas horas esquecia da pandemia no mundo e do caos aqui dentro. Quase conseguia aplacar a solidão. Por todos esses dias, eu fui salva pelo sol. E, assim, pude recordar do lugar que vim. Me senti de volta àquelas nossas conversas reclamando do calor e pedindo um mar para mergulhar. Deu saudade.

Com amor, passarinha.

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