Entrei em uma loja de moda infantil para comprar um presente. Vendedoras ocupadas. Correria. Fiquei ali em um canto aguardando a minha vez. Não pude deixar de ouvir os queixumes de uma mãe diante da difícil tarefa de encontrar algo fashion para o pezinho magro e voluntarioso da filha. A vendedora, bem treinada, desceu do estoque algumas caixas contendo os lançamentos nas cores rústicas com toques amadeirados como o caramelo/concórdia, o mocassim e o cinza pedra metálico. E apontava no catálogo para êxtase da mãe, repetindo para não pairar nenhuma dúvida: tudo de acordo com a tendência da paleta de cores da Pantone View. Em seguida, dirigiu-se à menina, reforçando o quesito simpatia: Qual cor você prefere? Do alto dos seus aparentes sete anos, ela olhou a moça de cima a baixo, abanou a cabeça e respondeu: Prefiro as cores do arco-íris.
Nossos olhares se encontraram no mesmo instante em que ela recebeu da mãe um ar reprovador e um puxão que a fez sentar para ouvir um sermão sobre o espírito de Natal e a necessidade de estar vestida à altura da festa, da ceia e de um certo pacote que pesava no trenó do Papai Noel. Ouvi, ainda, a sua tentativa de balbuciar algo sobre o tênis que reluzia em outra vitrine. Pisquei para lhe dar coragem. No entanto a mão da mãe apertando o seu braço era argumento bem mais forte. Negociação fechada, saíram de lá com um "vermelho lenhador" e protestos devidamente engavetados para o futuro.
Eis que, já na rua, ao obedecer ao vermelho do semáforo, vejo uma mãozinha acenando para mim ao mesmo tempo em que uma menina descalça se aproxima para pedir uns trocados. O motorista atento aciona o botão e os vidros começam a subir automaticamente. O gesto não impede que eu veja rolar duas manchas vermelhas, antes que o fumê a isolasse por completo.
O verde chega de repente, e eu obedeço. Consigo ver no retrovisor o sorriso da menina descalça sentada no meio-fio a colocar nos pés algo que, pela cor e brilho, lembrava bolas de Natal.
Que coisa mais lindinha