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Foto do escritorMalamanhadas

A fuga

Há uma tempestade violenta vindo em minha direção. Me escondo em uma caverna escura e vazia. Meus medos interiores voltam com uma força ainda maior. Quero gritar, mas minha voz não sai. Meus sentimentos paralisam minhas pernas, preciso colocá-los para fora de mim.


O menor deles, que eu não consigo controlar é a inveja, pior inveja de quem me quer bem. Inveja de quem está feliz enquanto tudo está caótico que não se deixar abalar. Mesmo quando tento expulsar isso de mim, eu não consigo. Não consigo procurar ajuda porque quero parecer mais forte que os demais.


Quão mesquinha eu sou, poupo cada diversão da vida. Cada detalhe simples eu nego a minha visão. Espero aproveitar quando encontrar alguém.


Talvez eu nunca encontre.


Talvez eu não aproveite.


Me sinto diminuída por uma parte de mim que diz que nunca vou conseguir, que não sou boa o suficiente, que não sou bonita, que eu estou no buraco onde habitam as mazelas humanas.


O mundo se interessa pelos loucos que lhe cabem. Os loucos perdidos que não lhes aceitam são rejeitados.


Eu sou louca e fui rejeitada.


Vem outra vez uma flecha no peito que me faz derramar mais uma lágrima, desta vez é a decepção com a vida que está tão caótica e confusa, parece um grande e tortuoso emaranhado. Tudo é escuro e indesejável, o que eu mais queria não posso, quem eu mais quero não vem hoje e nem amanhã, acredito que nunca.


Porque temos que provar o doce do beijo de alguém que amamos, o toque de quem desejamos se podemos sentir só uma vez?


Por que não somos ensinados de que pessoas partem mesmo estando aqui?


A modernidade não era para fazer as pessoas se aproximarem? Por que então elas evitam dar um último telefonema? Ou uma última mensagem? Se distanciam até mesmo dentro de um abraço?


Esse é o sentimento mais insuportável que torna meus sonhos em pesadelos. Querer alguém que desprezou rabiscar nossas últimas memórias juntos. Não saber mais em que letras despejar a dor que está no peito.


Voltar ao passado, onde estou confortável nos braços dele, naquela tarde de outubro, dilacera minha alma.


Dilacera mais ainda olhar o presente e ver que nem ele e nem ninguém parecido está aqui.


O que mais dói é ver um futuro onde não existimos, onde não rimos um para o outro, para confirmar que está tudo bem.


Choro porque o futuro me diz que não há “sims”.


Que sou estranha para ele e para o mundo.


Um futuro onde ainda estou nessa caverna escura, sozinha e doente.


Onde a única fuga é escrever.


Para não me deixar morrer.




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